Há uma coisa muito curiosa no blog. Escrevemos ou podemos escrever como num "diário", pra gente mesmo. Essa, de certa forma, é a graça da coisa. No entanto, sabemos que pessoas poderão e, provavelmente, vão ler. É melhor que um diário, é um verdadeiro confessionário, do qual, imagino, saímos de aliviados, satisfeitos de ter compartilhado aquele segredo, aquela vergonha. Num blog somos nós e também o personagem que escolhemos, alguma parte de nós que, embora não tenha prevalecido na vida, é a que mais gostaríamos que tivesse. Não somos o que gostaríamos, somos o que somos. Uns admitem essa "fraqueza", esse limite. Outros, convencidos de que são aquilo que gostariam de ser, não admitem sua condição de ser limitado, acreditam-se.
Descobri muito cedo que qualquer realidade é melhor do que qualquer fantasia e que qualquer verdade é melhor do que qualquer mentira. Torna a vida mais fácil, mais solta, mais livre, menos medrosa, menos hipócrita. Mas, sei que tendo escolhido esse lado jamais saberei se não teria sido melhor escolher o outro. Não temos duas vidas. Não há como saber.
Se perceber repleto de defeitos, sujeito aos erros mais idiotas, capaz de sentimentos terríveis, não é escolha, acontece. Essa percepção nos faz capazes de entender que sempre o erro pode ser nosso, que sempre a inveja pode ser nossa, que sempre podemos agir respondendo aos impulsos nada nobres e, por saber dos horrores que somos capazes, cuidamos de não fazê-los. Compramos brigas, muitas vezes perdemos, outras tantas temos certeza que devíamos abandonar a necessidade de justiça (único parâmetro para, em meio à própria precariedade, nos mantermos gente) e mesmo assim não podemos largar. Repito, não é escolha, acontece ser assim.
Queremos nos convencer que "escolhemos", mas, a verdade é que não tivemos, e nem temos, a opção de acreditar que somos aquilo que gostaríamos de ser.
A parte "diário"
Por muitos anos fiz terapia (é claro!). Muitos tipos. Por quatro anos fiz análise mesmo. Nunca deitei num divã porque odeio coisas que me parecem estereotipadas. Mas, três vezes por semana, sentava-me diante do psicanalista e, falava. Analistas falam pouco, muito pouco. Numa sessão, descontrolada de ódio que estava - ódio da vida, do mundo - disse: eu não entendo por que preciso sofrer com essas coisas. conheço dezenas de pessoas que nem se incomodam, que vivem mil vezes melhor, que não sofrem, quem nem percebem, que confiam em si mesmas, por que eu não posso ser assim?!?!?. E, numa das poucas falas nesses 3 anos, ele disse: cuca, é inútil, quando alguém vê alguma coisa, mesmo que não queira, pode fechar os olhos o quanto quiser mas sempre terá a imagem na mente. Sempre "verá", mesmo de olhos fechados. É assim.
A parte "confessionário"
Não sou uma pessoa propriamente insegura, quem me conhece sabe. Mas sempre desconfio de mim mesma. Sempre acho que posso estar errada. Sempre questiono que sentimento "menos nobre" poderia estar me movendo. Se desconfio de minha honestidade, paro. Faço isso mesmo quando é óbvio que não deveria, que isso não me trará benefícios algum. Sou judia e a culpa é, portanto, atávica. Sempre peço desculpas. E sinto muita, mas muita vontade de me lagar. De me permitir a "normalidade": a frase feita, o auto-elogio, as certezas.
Enfim, sigo querendo ser quem não sou. Batalha perdida, é claro.
Um comentário:
"Culpa" virou marcador no blog. Sensacional...
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