Quando comecei em jornalismo existia o Domingos. Editor de capa da Folha de S.Paulo há muito tempo, o homem era o mau-humor em pessoa. Mal se dirigia a nós, moleques e molecas encantados, no começo de nossas carreiras, com o universo da informação. Reclamava de todas as chamadas que mandávamos para a capa por mais que nos esforçássemos. Nem esperávamos um elogio, isso, nunca, mas um pouco menos que um bufar e resmungar já nos teria feito a semana. Sempre gostei dele. Fiz que fiz até que ele me suportasse e até, vez ou outra, se dignasse a me chamar para reescrever a chamada com ele - o que, no meu tempo, era prêmio.
Íamos, editores "empolgados", para a reunião das cinco, um clássico para quem trabalhou na Folha (e para quem não trabalhou é a reunião de fechamento - vende-se o que há de melhor para a primeira página do jornal).
Vendíamos, portanto, para o Domingos, independente do secretário de Redação que estivesse. Ele tinha uma letra miuda e anotava tudo numa lauda - tudo que ele considerasse. Assim, falávamos de olho na mão do Domingos. Olhar para nós, nem sonhar.
E, ele tinha uma frase clássica para qualquer coisa que nós, jovens "empolgados", vendíamos como uma fantástica novidade. "Já demos isso". "Mas, Domingos..." "Isso é como 'não vai faltar peixe na Semana Santa'". Falava isso em tom de ladainha, o que tornava a coisa mais desalentadora ainda.
Sim, isso é como "não vai faltar peixe na semana santa", só agora entendo e percebo que não é engraçado - aliás, é chatésimo.
Sim, isso é como "não vai faltar peixe na semana santa", só agora entendo e percebo que não é engraçado - aliás, é chatésimo.
Estou começando a achar essa coisa de jornalismo muuuuuito chata e isso é muito triste.
2 comentários:
Pois é, o que eu chamei de a "energia" dos que estão começando e uma pessoa mais sábia complementou: "ou a ingenuidade", às vezes é muito chato.
OK, precisamos de uma feijoada + caipirinha urgente semana próxima.
Postar um comentário